
Outro dia fomos comer uma pizza na casa de um grande amigo. Levei um CD com algumas canções gravadas recentemente - tenho estado agora numa fase bem Brasil: samba de raiz, Tim Racional, Ben Jor da antiga, enfim. Enquanto as meninas conversavam no quarto, ficamos na cozinha elaborando o cardápio. Ingredientes na mão, forno aquecendo e a bateria no contratempo. Não tem jeito, depois que o cara passa por uma banda, se dedica ao grupo e se atreve a compor, todo bate-papo começa, ou termina, em som. Isso, claro, quando o interlocutor reza pela mesma cartilha. Caso contrário, o cidadão corre o risco de se tornar inconveniente, para não dizer um chato, querendo fazer com que os demais identifiquem na música aquele detalhe percebido somente por ele, o que lhe provoca uma espécie de orgasmo sonoro.
-Putz, vocês ouviram isso? Do caralho! Nessa parte só chipô aberto. Ah, e essa afinação está em Ré. E não basta falar. Os comentários, evidentemente, são acompanhados de movimentos ritmados em baterias e guitarras invisíveis.
Lógico, generalizações são sempre perigosas. O que faço aqui é uma auto-análise. Mas acabo percebendo o quanto é prazeroso conversar sobre música. Ou sobre a parte técnica da música. E este é um dos muitos fatores que torna este meu grande amigo uma das figuras que mais respeito no cenário sonoro da região. Não é o cara mais inteligente da cidade, não é um cara que tem cem pedais ou a pedaleira mais moderna, mas é um músico nato, com sensibilidade, técnica e muita raça. Aliás, certa noite, depois de horas de avaliação e muitas caipiras, chegamos a conclusão de que não é a distorção que faz o peso. The Days of the New foi nosso objeto de estudo.
Foto: Mário Luiz Thompson


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