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Estou em direção à névoa da cidade. O cheiro de fritura dá a noção da chegada. E sobre a ponte vejo o rio gotejar, lá embaixo. Libertação dos sentidos!!!!

Monday, March 12, 2007

Esse cara era foda

Bueno, como disse no post abaixo, estamos retomando as atividades. Neste primeiro contato efetivo em 2007, gostaria de sugerir algo da série “Leitura do Momento”. Vamos lá, então. Não é segredo que tenho uma paixão pelas biografias. Acho que o campo de visão vai além, não só a respeito do personagem, mas em relação ao contexto. Enfim. O lance é que nos últimos dias tenho dedicado minhas idas e vindas no trem à leitura de “Sinfonia Inacaba”, de Lilian Dreyer. O livro foi um presente da minha amiga Mary Mezzari. Trata-se da vida de José Lutzenberger. Então, no avançar das páginas, percebe-se o quanto esse cara era genial. Desde os primeiros anos de vida, Jolch, como era chamado pelas outras crianças, já apresentava tamanha sensibilidade e curiosidade em relação aos assuntos a sua volta. E chega a dar um nó na garganta quando recorda, ainda na infância, as visitas, as brincadeiras e a adoração pelo verde, flora e fauna, exuberantes no Morro da Polícia, em Porto Alegre. Das águas límpidas do Arroio Dilúvio. As praias do Guaíba. Estamos falando em meados dos anos 20. No final dos anos 60, quando retorna da Europa, apavora-se com a degradação e o crescimento desordenado da cidade. Putz, anos 60. Fico imaginado a dor desse homem nos seus últimos anos de vida. Por falar em retornar da Europa, essa volta ao Brasil ocorre por estar vivendo uma crise de consciência. Formou-se em Agronomia na UFRGS, mas com uma visão muito mais ampla do que os colegas de faculdade. Nesse momento já dispunha de uma consciência ecológica, aliás, a palavra ecologia era praticamente desconhecida na época. E Lutz foi um dos responsáveis pela propagação. Por todas suas aptidões, incluindo extremo conhecimento em química, fluência em inglês, alemão e francês, velocidade de raciocínio, dentre tantas outras qualidades, foi contratado por uma multinacional alemã, ligada ao setor químico. Viajou o mundo. Estava sendo cotado para um cargo de executivo, prestes a ganhar um dos maiores salários da empresa, quando percebeu que a indústria havia focado seus investimentos no ramo de defensivos agrícolas. Defensivos agrícolas? Pois bem, futuramente, esses produtos viriam a ser chamados de agrotóxicos, devido também a luta e insistência de Lutzemberger. E isso foi o pivô de sua dor de cabeça. Não poderia mais trabalhar para uma empresa que distribuía veneno pelo mundo, acabando com tudo que era vivo nas lavouras, inclusive muitos agricultores morreram na esperança de ver suas plantações mais produtivas. Na época não havia a cultura de equipamentos de proteção e era um período em que pouco se sabia sobre as conseqüências do uso continuo deste material. Pois o homem previu a catástrofe que estaria por vir. Pediu demissão e montou em Porto Alegre a Agapan, na defesa da natureza, na defesa da vida. Tornou-se um ambientalista. Precisamos de mais militantes como Lutzemberger. O aquecimento global é uma realidade. E logo chegará o dia em que a natureza irá, efetivamente, cobrar de nós tudo o que fizemos contra ela ao longo dos anos. Que medo! Proponho fazermos a nossa parte enquanto há tempo.

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